Boletim Focus mostra mudança nas expectativas para a Selic em meio à inflação acima da meta e ao monitoramento dos possíveis cortes de juros nos Estados Unidos
O Boletim Focus divulgado pelo Banco Central nesta semana mostrou que a maior parte dos economistas do mercado financeiro já não acredita que o ciclo de corte de juros vá começar em janeiro.
A pesquisa, feita com mais de 100 instituições financeiras e consolidada na sexta-feira (5), revela que a expectativa dominante agora é de que a primeira redução aconteça somente em março, quando a Selic poderia cair de 15% ao ano para 14,5%. Atualmente, a taxa está no maior patamar em quase 20 anos.
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos próximos dias, mas o consenso no mercado é de que a Selic deve ser mantida no mesmo nível neste encontro. A percepção é de que o BC ainda não tem espaço para iniciar cortes, principalmente porque as projeções de inflação seguem acima da meta.
O BC define a taxa Selic com base no sistema de metas de inflação. Quando as previsões ficam alinhadas ao objetivo, é possível reduzir os juros. Quando estão acima, a tendência é manter ou elevar a taxa.
Desde o começo de 2025, com o novo sistema de meta contínua, o objetivo central é 3%, sendo considerado dentro da meta qualquer resultado entre 1,5% e 4,5%.
Como a inflação ficou acima da meta por seis meses seguidos até junho, o BC teve de publicar uma carta explicando as razões. Além disso, a instituição sempre olha para o futuro: as decisões de juros são tomadas considerando projeções de inflação, não o que já aconteceu nos últimos meses. Isso porque mudanças na Selic levam de seis a 18 meses para impactar totalmente a economia.
Hoje, o BC está mirando na meta para o segundo trimestre de 2027. Para 2025, 2026, 2027 e 2028, o mercado projeta inflação de 4,40%, 4,16%, 3,8% e 3,5%, respectivamente, todas acima do objetivo central de 3%.
Além das decisões internas, o mercado brasileiro acompanha de perto as expectativas para os juros nos Estados Unidos. A possibilidade de cortes pelo Federal Reserve influencia o câmbio, o custo de captação no exterior e o ritmo de queda dos juros no Brasil. Por isso, a dúvida sobre quando o Fed iniciará seu ciclo de redução também pesa nas projeções para a Selic.
Com os dois cenários conectados, investidores seguem avaliando os próximos passos do BC brasileiro e do banco central americano antes de confirmar apostas mais firmes para o início dos cortes.