Entenda o período de hiperinflação do Brasil na década de 90

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Entenda o período de hiperinflação do Brasil na década de 90

Veja a série de planos criados na tentativa de domar a inflação e qual foi a saída adotada. 

Imagem: Tumisu/Pixabay.

Hoje sentimos no bolso as dificuldades causadas pelas altas recentes da inflação, mesmo que, segundo os últimos dados do Ministério da Economia, ela esteja em desaceleração.

Imagine então como foi para quem precisou lidar com a alta dos preços no início dos anos 90, quando a inflação chegou a 81,3% no mês de março? Esse foi um período de hiperinflação, que é definida pelo aumento de preços generalizado, acima de 50% ao mês.

Acompanhe esse texto para entender como o Brasil chegou a esse ponto e o que precisou ser feito na economia para que o país retornasse a índices aceitáveis de aumento dos preços.

Quais as causas da hiperinflação?

O Brasil acabava de sair de um governo militar na década de 90 e vinha de um cenário de comércio exterior limitado e alta dívida pública externa. Foi, inclusive, a situação econômica do país que provocou uma grande crise política, culminando com o fim de 20 anos de regime militar em 1985.

  • Plano Cruzado

Em 1986, foi adotado o primeiro grande plano de estabilização econômica, o Plano Cruzado. Implantado pelo então presidente José Sarney, envolveu congelamento de preços e o corte de três zeros na moeda - trocando o Cruzeiro pelo Cruzado (com 1 Cruzado valendo 1.000 Cruzeiros).

Também foi um período de alta impressão de moeda: entre março e novembro de 1986, a base monetária do país foi de CR$ 70.029.000,00 cruzados para CR$ 172.456.000,00, o que representou 146,3% a mais de moeda em circulação.

O congelamento de preços levou à escassez dos produtos sem variação de preço, fazendo surgir um mercado paralelo. Para tentar remediar a situação, outro plano foi criado.

  • Plano Cruzado II

Em novembro de 86, a maioria dos preços brasileiros foi reajustada: produtos foram descongelados e tiveram o preço dobrado rapidamente; impostos de bebidas e cigarros aumentaram, o IPI - imposto sobre produtos industrializados - dobrou; combustíveis subiram 60%; automóveis aumentaram 80% e assim por diante.

Em 20 de fevereiro de 1987 o Governo Federal precisou declarar a moratória da dívida até setembro de 88.

  • Planos Bresser e Verão

Ao plano Cruzado II se seguiu o plano Bresser, que congelou novamente preços, junto de salários e câmbio, e o plano Verão, que modificou o índice de rendimento da caderneta de poupança, congelou preços e salários novamente e criou outra moeda, o Cruzado Novo - desta vez buscando paridade com o dólar.

O Plano Verão gerou desajustes na Poupança, que chegou a perder 20,37% do valor. Paralelamente, ambos foram períodos de muitas greves de trabalhadores e servidores públicos por reposição salarial. Em novembro de 1989, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado já era de 107.492,07%.

Como foi o período posterior à hiperinflação brasileira?

Houve muitas reviravoltas no cenário econômico. Acompanhe a seguir.

  • Plano Collor

Em 16 de março de 1990 o novo presidente, Fernando Collor de Mello, pegou todos de surpresa ao anunciar um plano com seu nome, não citado em campanha e via Medida Provisória, que implantou medidas drásticas em busca de estabilizar a economia.

O plano trouxe medidas impopulares, como o confisco das poupanças de quem tivesse valores acima de 50.000 Cruzeiros - que nunca foram devolvidas; os lesados tiveram que entrar na justiça para reaver o dinheiro.

Embora no primeiro mês do plano a inflação tenha baixado, com o tempo o IPCA acumulado chegou a 605,77%, enquanto a quantidade de dinheiro em circulação aumentou mais de 1.200%.

A esse plano se seguiu o Plano Collor II, implantado em 31 de janeiro de 1991. Foi aplicado novo congelamento de preços, criada a taxa referencial (TR) - que até hoje é utilizada no cálculo da poupança -, ampliado o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e reduzidas as tarifas de importação.

As medidas econômicas se mostraram um fracasso, com investidores indo à falência e a indústria brasileira desvalorizada. Assim, o presidente sofreu impeachment no final de 1992 e, na sequência, foi implantado o Plano Real.

  • Plano Real

Em 23 de julho de 1993 haveria mais um simples corte de zeros na moeda, na ordem de 1000 para 1. Surgia o Cruzeiro Real. Todos os preços passaram a ser cotados em URV (Unidade Real de Valor). A ideia era apagar a memória inflacionária que causava a inflação inercial.

O valor da URV era a cotação de fechamento do dólar no dia anterior, o que dolarizou a economia brasileira. No dia da transição, uma URV era equivalente a CR$ 2.750,00. Depois, a URV foi convertida para Real na ordem de um para um, com o real valendo 2.750 cruzeiros.

Após a implantação do Plano Real, a inflação foi finalmente estabilizada. Em 1999, foi criado o regime de metas de inflação, que busca até hoje fazer com que a inflação oscile dentro de uma faixa estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

Hoje, embora a economia global passe por um período de alta da inflação generalizada, as altas na taxa Selic promovidas pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), do Banco Central brasileiro, ainda mantém nossa inflação em um patamar alto, mas administrável.

E você, ficou com alguma dúvida? Tem medo de que a hiperinflação possa voltar? Conte para a gente nos comentários!

 

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Quinta, 09 Mai 2024

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